Por
Sara Gomes
“Homem não chora”. Certamente você já deve
ter ouvido esta expressão alguma vez na vida. Podemos dizer, a priori, que além
de uma questão de gênero é uma atribuição cultural, difundida por gerações.
Neste texto, refletiremos um pouco sobre como este conceito é largamente
propagado na música brasileira.
Por
algumas vezes, pude perceber que a reprodução deste discurso em diversos
segmentos da música, fortalece na sociedade esta visão destoante entre os
gêneros, em vez de combatê-la.O
estigma de que o homem não pode chorar é apenas o carro-chefe dentre uma série
de paradigmas impostos pelo modelo da sociedade patriarcal – o homem é o
provedor da família constituinte, sinônimo de virilidade e etc.
Porém,
as mulheres também são responsáveis pelo enraizamento destas convenções sociais
quando educam seus filhos. Todo homem já escutou a frase, “Pare de chorar!
Homem não chora!”, em diversas ocasiões da infância. Além disso, outra máxima
que também valida à tradição patriarcal se dá ao associarem vaidade à idéia de
“afeminado”, quando se trata do sexo masculino. Esta distinção equivocada acaba
por moldar no homem, muitas vezes, uma identidade carregada de machismo e
preconceitos.
Embora
não seja novidade, me propus a fazer uma breve análise deste assunto, por
enxergá-lo como um ponto preocupante e recorrente em nossa sociedade. Para
ilustrar a presente reflexão, escolhi duas músicas brasileiras que abordam a
temática.
A
primeira música a ser analisada, é a canção “Homem não chora”, do cantor Pablo do Arrocha.
Ela retrata a transfiguração da mulher submissa que prefere ignorar o respeito
a si mesma, do que enxergar que a relação não é mais saudável. Por exemplo, na
segunda estrofe, a música evidencia a superioridade masculina, quando fala que
o homem “não pede perdão”.
A
música de Frejat possui
praticamente o mesmo título da citada anteriormente e procura aparentar a mesma
superioridade masculina. Porém, na segunda estrofe, a frase “meu rosto
vermelho e molhado, é só dos olhos pra fora”, o eu lírico masculino esconde
seus sentimentos nos versos, talvez movido por um orgulho ferido, sendo
contrária a sua expressão facial, logo, caracteriza a ironia. Mas há quem
assuma o direito à sensibilidade masculina. É o caso do compositor e cantor Gonzaguinha em “Um Homem
Também Chora”.
Através dessa música, podemos concluir o revesso da expressão
abordada neste texto. Ao expor as fragilidades do homem, Gonzaguinha anula a
possibilidade de que haja uma distinção de gêneros. Essa canção evidencia o
amadurecimento de uma parcela da sociedade, ao contestar o discurso machista e
propor uma nova compreensão do assunto, sem mais estabelecer diferenças entre
os sexos. Mostra que o homem também tem a mesma capacidade de expressar seus
sentimentos que a mulher, afinal de contas, os sentimentos transcendem esta
divisão, por serem essencialmente humanos.
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