Por Cisco Nobre
Uma
grande instituição de educação protagonizou um exemplo de desumanidade ao
levantar questões de gênero nas últimas semanas. O Medgrupo, gigante no ramo de
ensino para concursos de profissionais da Medicina, chamou atenção ao ter suas
apostilas divulgadas nas redes sociais. O conteúdo do material apresenta vários
tipos de violência ao corpo feminino, questionando, além da estrutura física da
mulher, o seu caráter. Indagada sobre o caso, a empresa alegou ser contra a
agenda do “politicamente correto”.
Na
imagem de uma das questões, é apresentada uma jovem de 18 anos nua, deitada
numa cama. A garota tem as suas partes íntimas expostas, com um suposto odor exalando
de sua vagina, algo que é justificado por problema ginecológico. O absurdo é
que, no mesmo desenho, um rapaz, com cara de nojo, sai correndo do local,
fugindo. No texto da questão, é dito que a moça sofre de um corrimento no canal
vaginal.
O
texto que acompanha a ilustração descreve a jovem como promíscua, aspecto
desnecessário e até inadequado para a circunstância, pois leva a associar o
problema de saúde à promiscuidade.
Tem-se
aí mais um ato absurdo de violência contra a mulher. O conteúdo a transforma
objeto e denigre sua imagem ao invés de abordar o correto tratamento de
saúde. A misoginia praticada é mais uma atitude de agressão estrutural, dentro
de estruturas do nosso cotidiano. Como por exemplo, uma instituição de ensino
formando de forma distorcida a opinião de tantos médicos matriculados no curso.
Questionado
por internautas, o Medgrupo afirmou ser “contra a agenda do politicamente
correto” e disse que não modificaria nada do exposto. Decisões como esta mostram
como ainda estamos distantes de uma sociedade mais respeitosa, menos violenta.
Além
disso, a resposta apresenta outra questão, um enorme problema. A expressão “politicamente
correto” tornou-se pejorativa, sinônimo de causas tolas. De tal modo que a expressão
é desrespeitada ou subjugada, sofrendo preconceito de pessoas que dificilmente
conhecem a real intenção de se usar denominações que não ofendam nem
discriminem de forma negativa o diferente. Semelhante ao tratamento do termo
Direitos Humanos.
O
fato é que enquanto as pessoas não se dedicarem a compreender o que são essas
agendas, a construção de expressões como o politicamente correto, por exemplo,
o preconceito vai perdurar. Como resultado, a violência vai se refletir desde o
discurso até a estrutura social e, de certa forma legitimando preconceitos e
mesmo agressões físicas.
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