Por Cisco Nobre
O
primeiro jogo de futebol praticado por mulheres reconhecido pela Fifa aconteceu
no final da Século XIX. A cidade de Londres, com pouco público, no ano de 1895,
viu moças desafiarem a intolerância e praticarem o esporte que viria a ser o de
maior sucesso da Idade Contemporânea. Passados 127 anos da partida inaugural, a
entidade que administra o futebol mundial observa a modalidade feminina obter
êxito e encher estádios das competições de disputadas por seleções. Porém, a
realidade não é igual para todas as jogadoras e muitas ainda batalham contra o
preconceito, além da busca pela profissionalização.
Primeira
mulher a ocupar cargo na Fifa, a senegalesa Fatma Samoura é secretária-geral e
representante do futebol feminino na entidade. Ela constatou um aumento
significativo nos estádios de competições de seleções entre as mulheres. A
última Copa Africana de Nações, realizada em Camarões, contou com um público de
no mínimo 13 mil pessoas prestigiando aos jogos. Um número que supera alguns
jogos de futebol masculino no Brasil.
Samoura
avalia o novo cenário com muita expectativa. Com o desejo de acabar com a
dominação masculina, a secretária da Fifa fez um levantamento sobre essa opção
do público de acompanhar a modalidade que não é acostumada a levar muitos adeptos
aos jogos. O mesmo continente africano que colocou mais de dez mil pessoas nos estádios,
anteriormente não se conseguia levar duas mil para prestigiar as jogadoras,
segundo a própria dirigente.
Um
dos pontos que Fatma mais critica é o fato de o futebol feminino depender dos
recursos gerados pela Copa do Mundo masculina. A dirigente destaca que essa
forma de atuar é degradante e que apenas o investimento na modalidade atrairia
mais patrocinadores e daria autonomia, sem a dependência do masculino.
O
fato é que a chegada de Samoura à entidade fortaleceu demais a modalidade. O
investimento atraiu patrocínios, que renderam em maior veiculação das
competições organizadas pela Fifa a elevar a participação dos torcedores nos
estádios. Contudo, a realidade é um pouco mais sofrida e distante para jogadoras
que ainda não atingiram o patamar de representar seu país na sua seleção.
No Brasil, o futebol feminino ainda é considerado
um esporte amador e enfrenta dificuldades para sobreviver diante do preconceito
por questões de gênero. É um esporte que por muitos anos só podia ser praticado
por homens, está enraizado numa cultura machista. No chamado “país do futebol”,
as mulheres jogam por paixão, não recebem para se dedicar ao trabalho e,
consequentemente, não conseguem atrair maior visibilidade.
O país é só um exemplo do imenso
trabalho que Fatma Samoura vai ter como representante do futebol feminino na Fifa.
Profissionalizar a modalidade é uma forma de combater o preconceito, dar
suporte as atletas e aperfeiçoar as competições resultaria em maior
visibilidade. Contudo, o aumento do público nos estádios pelo mundo é um sinal
de tempos menos preconceituosos.
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