quarta-feira, 4 de março de 2015

Um belo dia resolvi mudar


Descrição para cegos: imagem mostra duas mãos segurando uma máscara  de baile.
Por Jade Santos

Quando eu era criança, agia como criança; pensava como criança. Costumava sempre observar meus irmãos; não gostava do modo como se portavam, como brincavam de futebol, como corriam pelo quintal.
Minha mãe sempre questionava e discutia com meu pai sobre meu jeito de ser, por que eu não era como as outras crianças? Por que não gostava de socializar com os demais? O que ela não entendia, é que não era eu quem não os queria por perto e sim ao contrário.
Quando completei quinze anos, passei a andar com umas meninas que conhecera na escola. Íamos ao shopping fazer compras, à praia nos bronzear, entre outras coisas. Certo dia fomos a uma butique, eu e a Carla. Ao entrarmos, percebi um olhar estranho de algumas pessoas em minha direção, inclusive da própria dona do estabelecimento.

Resolvi, então, perguntar se havia algo de errado comigo. Com um olhar de repúdio e tom irônico, a moça me respondeu que eu parecia uma aberração e aquele não era lugar pra mim.

Muito triste cheguei em casa aos prantos. Foi quando minha mãe me perguntou o que havia acontecido. Com os olhos cheios de lágrimas e o coração partido, olhei para ela e respondi: “mãe, hoje eu percebi o quão perverso o ser humano pode ser, mas, percebi também que preciso me libertar e não apenas parecer. É verdade, eu sei que não sou mulher, a vida toda me escondi, sei que sou um travesti, mas, de agora em diante eu serei o que bem quiser”. 

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