Descrição para cegos: desenho traz homem com uma interrogação localiza acima de sua cabeça e uma expressão de surpresa ao abraçar uma menina. |
Por
Dani Fechine
Mês passado recebi na redação uma pauta sobre gravidez
na adolescência. Um dos caminhos era conversar com jovens sobre o assunto,
saber o que pensam, o que debatem e como se comportam diante disso. É esse um
dos melhores momentos de ser jornalista: conversar, ouvir os outros. E é esse
também o pior momento de reconhecer no outro a sociedade machista na qual ainda
estamos inseridas.
Durante as entrevistas com os alunos de uma escola da
capital, não precisou muito tempo para ouvir julgamentos das mães adolescentes. Avaliações,
inclusive, arraigadas numa sociedade machista. Parece-me que os paradigmas
criaram raízes. “ELAS não têm a consciência de que ELAS geraram aquilo, ELAS
têm que ter a responsabilidade sobre aquilo”, disse um dos estudantes,
enfatizando a palavra “elas” da mesma forma que acabo de destacar.
Enquanto eu ouvia essas palavras ofensivas, a tentativa
de explicar que as crianças também tinham pais ia caminhando ao fracasso. Para
não alongar a discussão entre repórter e entrevistados, só acrescentei: “Eles
também, né?”. E recebi o silêncio em troca. Constantemente, ao me referir às
mães adolescentes, sempre trazia para exemplo os namorados das garotas (futuros
pais), em mais uma tentativa de enriquecer aquela entrevista que tinha tudo
para mudar o enfoque da pauta.
Portanto, antes de saber qualquer coisa sobre gravidez,
sobre atenção, contribuição e preservação, é indispensável colocar-se nos
lugares corretos e na posição dos outros. Por séculos, mulheres lutaram para
conquistar espaço no mercado de trabalho e na vida social. Até hoje tentam quebrar
dogmas impregnados na sociedade. Também por séculos, e nesse caso por um tempo
muito maior, concluiu-se que uma mulher não faz um bebê sozinha. Portanto, uma
mulher não tem responsabilidade única sobre o filho.
Com tantas lutas feministas tomando ruas e internet, o
que menos se espera é o dedo apontado. Tantas mãos já tocam os corpos das
mulheres com atitudes abusivas e criminais. É mesmo necessário mais um dedo, o
de acusação? Culpar uma gravidez também é abuso. Esse é o momento de dizer: eles
têm que assumir a responsabilidade sobre aquilo. Eles: mãe e pai, homem e
mulher, homem e homem, mulher e mulher. Direitos iguais, responsabilidades
iguais.
Pai, você também é mãe.
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