segunda-feira, 4 de abril de 2016

Dilma, não se preocupe. Eu também sou uma louca.

Descrição para cegos: imagem mostra a capa da revista Istoé
que tem como chamada principal "As explosões nervosas da
presidente" e traz uma foto da Presidenta Dilma Rousseff com
a boca aberta e sobrancelhas arqueadas.
Por Gabriela Figueirôa

A última edição da revista IstoÉ me pegou de surpresa, confesso. Por mais que o jornalismo que vem sendo feito na atual conjuntura política do país venha me decepcionando diariamente, esta edição conseguiu ir mais além. Foi mais uma verdadeira frustração que me levou a uma reflexão sobre as tais mulheres “loucas”.
Pra quem não viu, a capa da IstoÉ foi um incontestável ataque a todas as mulheres. Ela trouxe como destaque a foto da presidenta Dilma Rousseff em um pretenso momento de descontrole emocional. A reportagem traz um texto vexaminoso – para o jornalismo. Na matéria, é descrito um comportamento descontrolado, desequilibrado e preocupante da Presidenta da República, taxada em vários momentos de histérica, furiosa, propensa a atos violentos e incapaz de continuar dirigindo o país. 


Admito que precisei de quase duas horas para terminar a leitura, pois cada adjetivo usado era um soco na minha condição de mulher, que um dia já foi taxada de louca.
Depois de ler a reportagem, fiquei um bom tempo refletindo na quantidade de mulheres que sofrem todos os dias com essas características. Pensei naquela mulher que vive em um relacionamento abusivo e cada vez que toma coragem de questionar e enfrentar seu parceiro ele vira o jogo, na maioria das vezes questionando a sanidade mental dela.
Pensei também naquela funcionária que é assediada por seu patrão, e ao tomar coragem de denunciá-lo, ela é a louca interesseira que está acusando o coitadinho do homem. Essa mulher é a descontrolada que quer se dar bem à custa do patrão.
Sabe aquela mulher que busca enfrentar o machismo diário, com pesquisas, com campanhas e com a militância feminista? Ela também é taxada de louca quando seus argumentos ferem o ego masculino. Ela é a exagerada e a descontrolada toda vez que incomoda a zona de conforto deles. Ela é a feminista chata e desequilibrada que não sabe o que diz.
Pensei também naquelas mulheres que ousaram entrar na política - vale ressaltar que foram pouquíssimas. Pensei no desespero que deve ser conviver com muitos homens que se acham dono daquele espaço, que apontam o dedo e não dão credibilidade aos questionamentos delas. Porque mulher não consegue conduzir conflitos com articulações objetivas, mas de forma desequilibrada, já que tomam suas decisões se baseando em aspectos emocionais.
Foi isso que fizeram com você, presidenta. Eles quiseram acabar com sua credibilidade nesse contexto onde nós, mulheres, somos sempre associadas à histeria.
Consegue ver isso também presidenta? Esse estereótipo de “loucas descontroladas” só recai sobre nós mulheres. Todas nós já fomos loucas um dia. E ainda vamos escutar por muito tempo esses adjetivos, principalmente quando cometermos a loucura de querer ocupar um lugar que há muitos anos é de exclusividade deles.
Você hoje foi à louca da vez, presidenta, mas não se preocupe, eu e elas também somos loucas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por participar. Seu comentário logo será publicado.