Por Gabriela Figueirôa
A
última edição da revista IstoÉ me pegou de surpresa, confesso. Por mais que o jornalismo
que vem sendo feito na atual conjuntura política do país venha me decepcionando
diariamente, esta edição conseguiu ir mais além. Foi mais uma verdadeira
frustração que me levou a uma reflexão sobre as tais mulheres “loucas”.
Pra
quem não viu, a capa da IstoÉ foi um incontestável ataque a todas as mulheres. Ela
trouxe como destaque a foto da presidenta Dilma Rousseff em um pretenso momento
de descontrole emocional. A reportagem traz um texto vexaminoso – para o
jornalismo. Na matéria, é descrito um comportamento descontrolado,
desequilibrado e preocupante da Presidenta da República, taxada em vários
momentos de histérica, furiosa, propensa a atos violentos e incapaz de
continuar dirigindo o país.
Admito que precisei de quase duas horas para terminar a leitura, pois cada adjetivo usado era um soco na minha condição de mulher, que um dia já foi taxada de louca.
Admito que precisei de quase duas horas para terminar a leitura, pois cada adjetivo usado era um soco na minha condição de mulher, que um dia já foi taxada de louca.
Depois
de ler a reportagem, fiquei um bom tempo refletindo na quantidade de mulheres
que sofrem todos os dias com essas características. Pensei naquela mulher que
vive em um relacionamento abusivo e cada vez que toma coragem de questionar e
enfrentar seu parceiro ele vira o jogo, na maioria das vezes questionando a
sanidade mental dela.
Pensei
também naquela funcionária que é assediada por seu patrão, e ao tomar coragem
de denunciá-lo, ela é a louca interesseira que está acusando o coitadinho do
homem. Essa mulher é a descontrolada que quer se dar bem à custa do patrão.
Sabe
aquela mulher que busca enfrentar o machismo diário, com pesquisas, com
campanhas e com a militância feminista? Ela também é taxada de louca quando
seus argumentos ferem o ego masculino. Ela é a exagerada e a descontrolada toda
vez que incomoda a zona de conforto deles. Ela é a feminista chata e
desequilibrada que não sabe o que diz.
Pensei
também naquelas mulheres que ousaram entrar na política - vale ressaltar que
foram pouquíssimas. Pensei no desespero que deve ser conviver com muitos homens
que se acham dono daquele espaço, que apontam o dedo e não dão credibilidade
aos questionamentos delas. Porque mulher não consegue conduzir conflitos com
articulações objetivas, mas de forma desequilibrada, já que tomam suas decisões
se baseando em aspectos emocionais.
Foi
isso que fizeram com você, presidenta. Eles quiseram acabar com sua
credibilidade nesse contexto onde nós, mulheres, somos sempre associadas à
histeria.
Consegue
ver isso também presidenta? Esse estereótipo de “loucas descontroladas” só
recai sobre nós mulheres. Todas nós já fomos loucas um dia. E ainda vamos
escutar por muito tempo esses adjetivos, principalmente quando cometermos a
loucura de querer ocupar um lugar que há muitos anos é de exclusividade deles.
Você
hoje foi à louca da vez, presidenta, mas não se preocupe, eu e elas também somos
loucas!
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