terça-feira, 19 de abril de 2016

Machismo nosso de cada dia!


Descrição para cegos: foto mostra a frase "EL MACHISMO MATA" pintada em uma calçada.

Por Gabriela Figueirôa

        Engana-se quem pensa que o machismo só acontece em situações de estupro, violência doméstica, submissão e diferença salarial. Na verdade, ele permeia nosso cotidiano. Durante os protestos que aconteceram contra a votação do impeachment no último domingo, tive, mais uma vez, a certeza de que muitos dos comportamentos machistas estão presentes nos detalhes e nós nem percebemos, simplesmente, porque é uma construção histórica muito difícil de acabar.
        Em uma das aparições do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, um dos militantes que estava na manifestação soltou um “filho da puta”, e no mesmo momento foi repreendido por sua esposa: “Respeita as putas e a sexualização das mulheres”. O pedido de desculpas pelo deslize veio rapidamente.
        Depois de presenciar esse pequeno diálogo, fiquei refletindo o quanto a cultura patriarcal é determinante para a reprodução do machismo e como ela influenciou na sua naturalização.

Algumas vezes, tais atitudes não são intencionais, mas é tão comum no nosso dia a dia que saem sem a gente nem perceber – digo isto porque já me peguei diversas vezes cometendo algum tipo de machismo. Apesar de algumas coisas não serem propositais, gostaria de frisar que a maioria das atitudes machistas, mesmo que insignificantes, têm sim a intenção de diminuir as mulheres. Certos gestos que se mostram inofensivos, na verdade, roubam nosso espaço e as possibilidades de avançar.
Esse machismo invisível e naturalizado está presente naquela situação em que a mulher é sempre interrompida pelo homem e não consegue sequer concluir uma frase. Está presente quando uma mulher é julgada e xingada pelo tamanho da sua roupa, pelo tipo de roupa que usa e pela quantidade de parceiros sexuais que já teve – em muitas ocasiões xingadas pelas próprias mulheres. Ele também está presente naqueles olhares disparados a elas nas ruas, nos transportes públicos e nos ambientes de trabalho. Está presente naquelas situações em que os homens dedicam muito tempo para explicar algo muito óbvio, como se você não fosse capaz de compreender, afinal você é uma mulher.
Sabe aquele contexto que nós mulheres somos associadas à histeria? Aquelas típicas frases “Não faz isso que é coisa de homem”, “Sabe cozinhar? Já pode casar!” e “Bebida não é coisa de mulher”? São tipos de machismo disfarçado. Aqueles xingamentos aos juízes de futebol também são.
Nós mulheres estamos atadas a esse ciclo de abusos, que não vai acabar amanhã. Essa cultura patriarcal criou uma sociedade misógina, machista e sexista e a mudança depende de nós. O feminismo é um movimento social revolucionário e a revolução já começou. Então pense bem antes de xingar pessoas como Cunha de “filho da puta”. Elas não merecem ser relacionadas a um ser tão desprezível. Respeite as putas!

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