Descrição para cegos: foto mostra a frase "EL MACHISMO MATA" pintada em uma calçada. |
Por Gabriela Figueirôa
Engana-se quem pensa que o machismo só
acontece em situações de estupro, violência doméstica, submissão e diferença salarial.
Na verdade, ele permeia nosso cotidiano. Durante os protestos que aconteceram
contra a votação do impeachment no último domingo, tive, mais uma vez, a
certeza de que muitos dos comportamentos machistas estão presentes nos detalhes
e nós nem percebemos, simplesmente, porque é uma construção histórica muito
difícil de acabar.
Em uma das aparições do presidente da Câmara
Federal, Eduardo Cunha, um dos militantes que estava na manifestação soltou um
“filho da puta”, e no mesmo momento foi repreendido por sua esposa: “Respeita
as putas e a sexualização das mulheres”. O pedido de desculpas pelo deslize veio
rapidamente.
Depois de presenciar esse pequeno
diálogo, fiquei refletindo o quanto a cultura patriarcal é determinante para a
reprodução do machismo e como ela influenciou na sua naturalização.
Algumas vezes, tais atitudes não são intencionais, mas é tão comum no
nosso dia a dia que saem sem a gente nem perceber – digo isto porque já me
peguei diversas vezes cometendo algum tipo de machismo. Apesar de algumas
coisas não serem propositais, gostaria de frisar que a maioria das atitudes
machistas, mesmo que insignificantes, têm sim a intenção de diminuir as
mulheres. Certos gestos que se mostram inofensivos, na verdade, roubam nosso
espaço e as possibilidades de avançar.
Esse machismo invisível e naturalizado está presente naquela situação em
que a mulher é sempre interrompida pelo homem e não consegue sequer concluir
uma frase. Está presente quando uma mulher é julgada e xingada pelo tamanho da
sua roupa, pelo tipo de roupa que usa e pela quantidade de parceiros sexuais
que já teve – em muitas ocasiões xingadas pelas próprias mulheres. Ele também está
presente naqueles olhares disparados a elas nas ruas, nos transportes públicos
e nos ambientes de trabalho. Está presente naquelas situações em que os homens
dedicam muito tempo para explicar algo muito óbvio, como se você não fosse
capaz de compreender, afinal você é uma mulher.
Sabe aquele contexto que nós mulheres somos associadas à histeria?
Aquelas típicas frases “Não faz isso que é coisa de homem”, “Sabe cozinhar? Já
pode casar!” e “Bebida não é coisa de mulher”? São tipos de machismo
disfarçado. Aqueles xingamentos aos juízes de futebol também são.
Nós mulheres estamos atadas a esse ciclo de abusos, que não vai acabar
amanhã. Essa cultura patriarcal criou uma sociedade misógina, machista e
sexista e a mudança depende de nós. O feminismo é um movimento social
revolucionário e a revolução já começou. Então pense bem antes de xingar
pessoas como Cunha de “filho da puta”. Elas não merecem ser relacionadas a um
ser tão desprezível. Respeite as putas!
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