quarta-feira, 1 de junho de 2016

Lei 'antibaixaria' e a violência de gênero no funk


Descrição para cegos: Foto exibe conjunto de pessoas, com o foco em três mulheres dançando, localizado em uma casa de festas noturna, sendo iluminados por um jogo de luz.

Por Vítor Nery

No início de maio, a prefeitura de Goiânia-GO sancionou uma lei que proíbe o uso de dinheiro público para a contratação de artistas que em suas músicas desvalorizem ou incentivem a violência contra mulheres, homossexuais e afrodescendentes, expondo-os a situação de constrangimento. Medida aplicada primeiramente na Bahia, após o Carnaval 2011, foi adotada na Paraíba em 2013.
O assunto traz à tona a violência de gênero na música. Um dos estilos onde isso ocorre com mais frequência é o funk. Mas por que, ao invés de falarmos sobre isso, acabamos por difundir – no piloto automático – os sons da indústria do estilo Proibidão por sua bizarrice e poder de “chiclete”? Quais são as consequências de se replicar um discurso que menospreza e banaliza a mulher, a exemplo do hit “Baile de Favela”, de MC João?

A monopolização das vozes, pelos MCs do gênero masculino, institui uma visão única de sexo em que a mulher existe apenas para satisfazer os prazeres do homem, como uma espécie de “propriedade recreativa”. Além disso, o funk Proibidão é caracterizado pela sexualização precoce – a exemplo da alta popularidade da palavra “novinha” nessas músicas.
Com isso, a possibilidade de gravidez indesejada em menores de idade aumenta, proporcionalmente à chance dessas meninas carregarem os filhos pelo resto das vidas sem apoio, tratadas como descartáveis. Isso é extremamente preocupante. Principalmente porque no Brasil, mais da metade das vítimas de estupro são menores de 13 anos, representando 50,7% do total dos casos.
Precisamos continuar falando sobre a indústria do Proibidão. Num país onde o funk é parte importante da cultura da periferia, pode ser uma estratégia eficaz para diminuir a violência de gênero.

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