segunda-feira, 30 de maio de 2016

Futebol é lugar da jornalista mulher?


Descrição para cegos: Foto exibe uma mulher de cabelos longos preso em "rabo de cavalo", assistindo à uma partida de futebol.

Por Gabriela Figueirôa

        Não tem como fugir dessa regra: se você é mulher e diz que gosta de futebol, provavelmente não vão te levar a sério. A situação fica ainda mais complicada para aquelas mulheres que invadem uma profissão dita masculina. As jornalistas esportivas sofrem diariamente com o machismo que impera no futebol, que vão desde flertes básicos até xingamentos, ameaças verbais e questionamentos diários do seu trabalho.

        A história que futebol é coisa de homem, infelizmente, ainda é uma ideia que predomina em nossa sociedade. Mulheres que se declaram amantes do esporte sofrem constantes preconceitos e questionamentos, daqueles que se acham os únicos donos dessa paixão nacional. 

        O preconceito não se restringe apenas às torcedoras; as mulheres que pretendem atuar nesta área sofrem muito para conquistar um espaço. Se para ingressar no mercado de trabalho, precisa provar que é capaz de realizar as mesmas funções dos homens de forma competente, imagine a dificuldade que tem para atuar no cenário esportivo? Um cenário que, segundo o senso comum, é somente deles, porque só eles são capacitados para isso.
        Além de ter que provar dia a dia que têm capacidade de trabalhar nessa área, as jornalistas esportivas sofrem com o preconceito do público masculino, que faz constantes ataques, ameaças e comentários ofensivos nos estádios, nos ginásios e nas redes sociais.
Recentemente, uma campanha realizada pelo canal americano Just Not Sports pediu a alguns homens que lessem em voz alta e na frente de duas jornalistas esportivas, tuítes que elas recebem diariamente dos torcedores. Nos comentários estavam presentes diversas ofensas, ameaças de estupro – uma das jornalistas já sofreu esta violência - e preconceito. Os homens ficaram envergonhados com o conteúdo e pediram desculpas com lágrimas nos olhos. A campanha deixou claro o desafio que as mulheres que pretendem entrar na profissão, terão de enfrentar.
Além de ter que encarar este público machista, elas também sofrem com o preconceito dos próprios colegas de trabalho. Podemos encontrar esta violência naquelas velhas insinuações de profissionais da área, de que a jornalista só consegue informações exclusivas ou promoções por meio de favores sexuais. É aquele velho estigma que toda mulher sofre quando consegue algo, seja uma promoção no trabalho ou uma informação importante.
        Outro estereótipo que as mulheres carregam é o de musa. As profissionais desta área são vistas como meros objetos para atrair o público masculino. Já percebeu que a maioria das apresentadoras são bonitas e seguem o padrão de beleza aceitável pela sociedade? Esse padrão nas apresentadoras é consequência da nossa sociedade patriarcal, que coloca a mulher como mero objeto.
        O machismo nesse meio é notável, e a pergunta que fica é a seguinte: até quando profissionais do jornalismo vão continuar elegendo musas para o esporte? Até quando vão duvidar da capacidade feminina de entender futebol? Quando vamos ser avaliadas apenas pelo nosso trabalho, sem ser condenadas constantemente pelo simples fato de sermos mulher?
Acorda seu machista, nosso lugar também é no futebol.

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