sábado, 14 de maio de 2016

Mulher na política, só se for à primeira-dama.


Descrição para cegos: Foto exibe homens sentados reunidos no Salão Oval,
bem iluminado, todos vestidos de trajes formais.

Por Gabriela Figueirôa

A posse do segundo mandato da presidenta Dilma Rousself foi emblemática. Ela apontava que o protagonismo na política também pertencia a nós mulheres. Em um carro aberto, Dilma, acompanhada da sua filha Paula, desfilaram sozinhas na Esplanada dos Ministérios. Não se viu ternos, gravatas e cabelos brancos, era a vez delas. Mas o que parecia ser um momento de protagonismo feminino, na última quinta feira, 12, se consolidou com uma nova cara. A misoginia se instaura definitivamente na política brasileira. A mulher, que antes estava na linha de frente, hoje se restringe apenas à posição de bela, recatada e do lar.
Dilma Rousself não é mais a chefe da nossa nação. Ela se foi e hoje é apenas uma presidenta afastada. No entanto, o afastamento não se restringiu apenas a ela. Os homens decidiram que o espaço na política volta a ser de exclusividade deles. Saímos juntas com a presidenta eleita. Nenhuma mulher foi nomeada ministra no novo governo do presidente interino, Michel Temer, e isso não acontecia desde a ditadura militar, com Ernesto Geisel (1974-1979)

Esse novo cenário político do Brasil é preocupante. Em uma sociedade em que as mulheres representam 51,4% da população, não ter nenhuma representante no alto escalão do Governo Federal escancara de vez a desigualdade de gênero existente na nossa política.
Pior do que isso é ver que Temer foi apoiado por uma parcela mínima da população. Nas redes sociais, pessoas alegam que os nomes foram decididos com base na competência e não em gênero. Eles não percebem que esse argumento é ainda mais machista que a própria atitude do governo. A representatividade não é importante e tais comentários pressupõe que nenhuma mulher é competente o suficiente para atuar na política.
A mídia tradicional também decidiu fazer parte, mais uma vez, deste circo machista. Depois da reportagem da revista Veja sobre o perfil ideal da mulher na política, o portal Extra divulgou uma matéria falando como as mulheres dos novos ministros chamaram a atenção nos bastidores do planalto. Para a mídia, não é importante discutir sobre a falta de representatividade da mulher na política, mas reafirmar o papel de objeto que elas têm.
A primeira presidenta mulher do Brasil se foi, e com ela nossa esperança de continuar dando voz a quem sempre esteve como figurante na vida política. Para eles, nosso lugar hoje é no máximo como primeira dama, mas aviso: vai ter resistência.

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