terça-feira, 16 de agosto de 2016

A cultura do estupro ainda pulsa na academia

Descrição para cegos: foto de um cartaz onde originalmente está escrito "Melhor time do CCM" em letras menores e, no centro em letras maiores "DOPASMINA". Sobre esse letreiro, escrito com pincel atômico, lê-se "Respeita as mina!" e, como corrigindo o texto original, em vez do DOPA sugere JUNTA. Por fim, embaixo, acrescenta: "Juntas somos + fortes".

O Coletivo Nise da Silveira, formado por alunas dos cursos da área de saúde da Universidade Federal da Paraíba, divulgou terça-feira uma nota em repúdio à escolha do nome de um dos times formados por alunos do curso de Medicina da instituição. A nota denuncia o trocadilho envolvido na palavra “Dopasmina”, que é originalmente o nome de um neurotransmissor produzido pelo cérebro, mas usado também para denominar festas em que as mulheres (minas) são dopadas e abusadas sexualmente. A nota ganhou o apoio de várias outras entidades, como se pode conferir abaixo.

Nota de repúdio ao termo "Dopasmina" escolhido pela Turma 99 do Curso de Medicina da UFPB como seu nome de time


     

        O Coletivo Feminista Nise da Silveira (Medicina/UFPB) repudia, por meio desta, a escolha do nome "Dopasmina" como nome do time e da turma 99 do curso de medicina da UFPB e, principalmente, as atitudes que os alunos tomaram no dia 16/08/2016 ao defender seu direito de escolha, não levando em consideração a quantidade de colegas ofendidas e desrespeitadas pelo termo escolhido e insistindo em utilizar o termo de forma ameaçadora.
Além disso repudiamos o trato da turma e outros alunos presentes com o professor Luciano Bezerra Gomes (DPS/CCM -UFPB) que ao se posicionar publicamente contra o termo e chamar atenção para o fato de que mesmo toda a turma estando reunida para assistir uma partida de futebol feminino e ovacionando as jogadoras, não tinham respeito com as mulheres e promoviam a violência de gênero e apologia ao estupro, foi vaiado e impedido muitas vezes de continuar sua fala, atrapalhado por gritos e palmas.
        O trocadilho dopasmina é um termo bastante utilizado pelos estudantes de medicina de todo o país ao nomear festas e eventos, onde ocorrem diversas tentativas e abusos sexuais às mulheres, a maioria realizados por futuros médicos e acobertados pela própria universidade e centros acadêmicos. É notável a falta de empatia da turma com diversas vítimas e também com as colegas que mais uma vez se encontram a mercê do machismo e da cultura do estupro, tendo que vivenciar atitudes como essa e serem vítimas de gaslighting e uma opressão de gênero fortíssima, que aparenta imperar dentro do curso médico. Além disso, atitudes de apologia ao estupro mancham o nome do curso e da Universidade que a turma está vinculada, prejudicando diversos alunos de ambos os sexos e os professores.
        É importante ressaltar que de acordo com o Artigo 287 do Código Penal (Decreto Lei 2848/40) é crime fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime, sob pena 3 a 6 meses de detenção. Não conseguimos achar outro motivo para a realização de tal apologia se não a ignorancia e também a conformidade e aceitação da cultura do estupro e do machismo dentro da nossa sociedade, algo que buscamos quebrar e conscientizar acerca da necessidade da equidade de gênero.
        Modificamos os cartazes expostos com o termo para "Respeitasmina" e "Juntasmina", representando a necessidade de respeito e união dentro da sociedade e principalmente dentro do curso médico para que novas atitudes machistas e opressoras não se reproduzam ou se reinventem, destacando que não nos calaremos sob coerção ou ameaça e que o Coletivo Nise da Silveira está aberto para diálogo.

Assinam:
- Coletivo Feminista Nise da Silveira (UFPB)
- Coletivo Feminista Geni (FMUSP)
- Liga Acadêmica de Medicina da Família e Comunidade da Paraíba
- Coletivo Contra Opressão (FPS)
- Direção Executiva dos Estudantes de Medicina (DENEM)
- Coletivo Cuidar é Lutar (UFPB)
- Coletivo de Mulheres da DENEM
- Coletivo de Mulheres da NE-2
- Projeto Partejar (UFPB)
- Coletivo pela Humanização do Parto e do Nascimento na Paraíba
- Coletivo de Mulheres da UFT
- Centro Acadêmico Rocha Lima (MEDICINA USP-RP)
- Centro Acadêmico de Fisioterapia - UFPB (Gestão "O Novo Sempre Vem")
- Centro Acadêmico de Psicologia - UFPB
- Frente Feminista da UFPB
- CAUS/UFPE
- Coletivo de Mulheres da Medicina UERJ
- Coletivo de Medicina Estacio
- COFEM FMP/FASE
- Coletivo de Mulheres UFJF
- Centro Acadêmico de Terapia Ocupacional - UFPB
- Projeto Saúde, Direito e Diversidade UFPB
- CAMUP - UPE/Garanhuns
- Frente Paraibana Antimanicomial
- Centro Acadêmico de Educação Física
- Levante Popular da Juventude
- Movimento Zoada - UFPE
- DADSF - Diretório Acadêmico de Direito da UFPE
- NESC - Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva
- Rede de Mulheres em Articulação da Paraiba
- Frente Paraibana Drogas e Direitos Humanos

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