Descrição para cegos: foto
de pessoas jogando card sobre uma mesa onde as cartas estão espalhadas.
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Por
Lucas Campos
O segmento dos card games (ou jogos de
cartas) não difere muito do resto do universo nerd. Existe nele diversos tipos
de preconceito, como machismo, LGBTfobia, racismo e por aí vai. Se tocarmos na
tangente da representação, então, sabemos que encontraremos poucos personagens
que agradem às pessoas dos movimentos feminista, LGBTQ+ e negro. Além disso,
ainda há muitos estereótipos ao retratar pessoas desses grupos.
Quando observamos card games, tanto físicos -
Yu-Gi-Oh! – como virtuais – Faeria, Hearthstone e Scrolls -,
observamos que realmente existem poucos ou mesmo não existem personagens que
representem bem certas categorias. Por exemplo, quando falamos de mulheres nos
card games, percebemos que elas geralmente apresentam-se em dois aspectos: as
guerreiras sexualizadas e as donzelas indefesas. É difícil achar personagens
femininas que fujam desses perfis. Se falarmos de negros e LGBTS, então, o
número é absurdamente inferior – beirando praticamente a inexistência.
Talvez isso encontre justificativa no público
que consome esses jogos, geralmente homens cis, brancos e heterossexuais. Por
que as empresas investiriam em grupos que não lhes dão retorno, afinal?
Infelizmente, a lógica de mercado impera nos negócios bem-sucedidos do universo
nerd. Assim, as minorias, que já evitam esses ambientes e produtos por causa do
público majoritário, não se sente convidada a jogar porque não há
representação, ou seja, não há com o que se identificar nos card games.
É uma realidade triste e, muito embora a
grande maioria das empresas não tenha o menor interesse em mudar a forma de
pensar e produzir conteúdo, há ainda algumas que se esforçam para atender às
demandas sociais de uma representação bem-feita. Wizards of The Coast,
proprietária do card game Magic: The Gathering, decidiu que era hora de abraçar esses públicos e tem feito um
excelente trabalho.
Limitando-me apenas à questão de gênero,
trouxe algumas cartas que exemplificam como Magic:
The Gathering representa mulheres, transexuais e pessoas de gêneros
não-binários de uma forma muito bacana, promovendo inclusão e diversidade
dentro do card game. Começo trazendo Elspeth e Samut, mulheres guerreiras, que
usam trajes de combate e portam armas.
No meio nerd, o comum seria mulheres
sexualizadas em posições anatomicamente impossíveis, onde o foco do desenho
estaria nos seios e nas nádegas. Não estou dizendo, é claro, que não existam
personagens femininas retratadas assim em Magic. Pelo contrário, elas existem,
mas percebe-se que existem várias personagens que fogem disso no card game.
Além da questão do corpo propriamente dito, é bacana como Magic tem várias
personagens femininas que não são apenas suportes para os homens do jogo.
Mas Magic vai além dessa questão, trazendo
personagens transexuais e de gêneros não-binários. É importante salientar que nem
sempre há como identificar essas características nas cartas. Entretanto, as
histórias dos personagens são divulgadas em contos e livros que a empresa
também produz. É o caso de Alesha e Ashiok:
A história de Alesha foi contada em A Verdade dos Nomes, de autoria de
Alisson Medwin, James Wyatt e Matt Knicl. Pertencente a uma cultura que confere aos
seus guerreiros o direito de escolher seus nomes após conquistar uma glória em
combate, Alesha vê sua posição de liderança questionada por um orc (ser
mitológico) que a acusa de ser um menino que acredita ser mulher.
A história também retrata o temor de Alesha
ao escolher seu nome aos 16 anos e explica que ela teve muito medo de assumir
esse nome. Ao orc que a enfrentou, ela responde: “Eu
sei quem eu sou. Eu não sou um menino. Eu sou Alesha, como minha avó antes de
mim”. Alesha é, portanto, o primeiro personagem trans do card game.
No caso de Ashiok, os fãs
sempre especularam quanto ao seu gênero. Percebe que realmente não há marcações
de gênero na silhueta do personagem? Isso porque ele foi criado pela empresa
com o objetivo de ser andrógino e também o primeiro personagem de gênero
não-binário no jogo. Este é um fato surpreendente, porque androginia e
não-binariedade praticamente não são representadas neste segmento do mundo nerd.
Em Magic: The Gathering, também encontramos personagens femininos e
masculinos em pé de igualdade em questões de poder, de combate ou de política;
além de ter alguns personagens negros em posição de liderança - mulheres negras, inclusive - e alguns que são assumidamente homossexuais. Assim,
através de uma iniciativa bastante simples, Wizards of The Coast tenta
abraçar um maior número de públicos e mostrar que há espaço para vários grupos
sociais em seu universo fantástico.
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