Por
Tereza Figueiredo
Não
é novidade a opressão sofrida pela mulher na cultura islâmica. No
Afeganistão, país onde o islamismo aplica seus ensinamentos tanto
na esfera privada quanto na esfera pública, algumas famílias vestem
suas meninas durante a infância com trajes de meninos para que estas
possam desenvolver atividades exclusivas do sexo masculino, a exemplo
de frequentar a escola com regularidade e transitar desacompanhadas
livremente.
Assim,
meninas desde os primeiros anos de vida são tratadas, vestidas e
educadas como homens e assumem também este papel nos espaços
públicos, de modo que nem mesmo seus grupos de amigos suspeitam do
seu verdadeiro sexo biológico. Caso este seja descoberto, age-se
naturalmente e a menina continua a ser tratada como um garoto.
Fenômeno
parecido com o que acontece em uma pequena parte da Albânia, com a
tradição das virgens juramentadas, os
bacha posh, indivíduos considerados como de um terceiro gênero, têm
um destino mais triste: enquanto que a virgem juramentada pode
permanecer no papel masculino durante toda a vida se assim desejar,
no Afeganistão os bacha posh, ao atingir a puberdade, são forçados
a reassumir a identidade feminina.
Quando
obrigados a se portarem como mulheres, os bacha posh entram em
conflito interno e geralmente sofrem agressões de seus maridos ou
dos homens de suas famílias, pois não conseguem ser subservientes e
desempenhar as atividades esperadas de uma mulher, a exemplo de
cozinhar e cuidar dos filhos. Acostumados com a autonomia concedida
ao sexo masculino, os bacha posh dificilmente se adaptam à opressão
sofrida pela mulher e, muitas vezes, permanecem travestidos, em
segredo, pelo resto da vida.
A
jornalista Jenny Nordberg foi uma das pioneiras a trazer a tradição
dos bacha posh a público, primeiro em uma matéria para o New York
Times e posteriormente no livro "As meninas proibidas de Cabul"
- traduzido para o português este ano - cujo enredo gira em torno da
vida de quatro bacha posh que passam pelos mais diversos dilemas:
desde serem escolhidos para assumir o papel masculino até
recusarem-se a tornar-se mulheres novamente perante a sociedade após
a puberdade.
Para
mais detalhes sobre o livro e sobre este fenômeno da cultura afegã,
clique aqui
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