Descrição para cegos: foto de Laís Figueiredo
olhando para a câmera.
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Por Lucas Campos
Ela nem
mesmo lembra a idade com a qual começou a jogar. Estima, entretanto, que
começou em 2008, há quase 10 anos. Naquela época, a menina tinha um computador
“cabeção”, que fora comprado por seus pais, uma máquina não muito boa mesmo
para os padrões daquele tempo. Lembra-se que costumava jogar games mais bobos e
ingênuos, como Neopets ou Habbo Hotel, coisas que ela entende como
não-jogos.
“O primeiro
jogo realmente competitivo que joguei foi o Tibia,
em 2009, um negócio que realmente fez parte da minha vida por muito tempo, e
que até hoje faz”, relata a estudante paulista Laís Figueiredo. Ela diz que a
relação estabelecida, desde a infância, com os jogos era “bipolar”, porque
beirava o ódio quando o amor não imperava.
A jovem
confessa que, ainda que costuma se divertir jogando, se sente um tanto
frustrada eventualmente. Ela raramente joga online para se distrair, porque
sempre estabelece metas a serem cumpridas dentro dos games, como chegar até
certo nível ou completar uma missão muito difícil. Por conta disso, passou um
tempo sem jogar online, mas voltou ao ciberespaço com o League of Legends e com o Tibia,
aquele jogo de sua infância.
A gamer
esclarece, entretanto, que quando era mais nova e estava começando a jogar
online, encontrava um número muito reduzido de mulheres e o ambiente tornava-se
tipicamente “masculino”. O machismo, infelizmente, era uma característica
predominante desse tipo de ambiente. “Os caras sempre acharam, em todos os
jogos que já joguei, que por eu ser mulher eu tinha que ser obrigatoriamente
pior que eles. Quando eu realmente era pior, era porque ‘eu sou mulher’. Quando
eu era melhor, era motivo pra me chamar de ‘shemale’ (homens que jogam com
personagem feminino)”, explica. Laís acrescenta que, para esses homens, “ser
mulher” e “ser boa” eram coisas que não podiam andar lado a lado.
Ela
esclarece que, hoje em dia, termos como ‘shemale’ entraram em desuso, porque as
mulheres têm dominado esses espaços gradativamente, mas isso não significa que
as agressões também acabaram. Laís relata que as agressões são voltadas
unicamente pelo fato de ser uma mulher: “’Tinha que ser mulher’, ‘vai lavar
louça’ e derivados são coisas que eu já fui obrigada a ler por conta dos meus
amigos terem citado meu nome em alguma partida on-line, já que meus nicknames
costumam ser "neutros" (não tem nada que fale ‘essa pessoa deve ser
uma mulher’)”. Esse tipo de situação, infelizmente, acontece com ela, mas
também com suas amigas. É algo que faz Laís se sentir verdadeiramente mal.
Quando é
atacada nos jogos, Laís costuma usar o recurso de silenciamento que existe em
grande parte dos jogos online, impedindo-a de ver o que falam negativamente
sobre ela. “Não acho que valha a pena me estressar com esse tipo de coisa
quando estou jogando”, afirma a paulista.
Laís
acredita que este poderia ser visto como um comportamento infantil, mas que
muitos homens costumam adotá-lo, então vai além: é machismo vindo de homens que
não conseguem aceitar que o mundo dos jogos está cada vez mais frequentado por
mulheres. “O ego masculino é grande demais e não aceita que mulheres,
historicamente vistas como inferiores na nossa sociedade, possam ser melhores
que eles”, lamenta. Ela conclui dizendo que não sente raiva de ninguém que a
xingou, mas sim pena. Seu desejo é que essas pessoas se coloquem no lugar das
mulheres que agridem e reflitam sobre as atitudes nocivas que estão praticando.
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