Por
Lucas Campos
Nascida em Goiás, Naiade Caparelli mora em
João Pessoa há quatro anos. Antes disso, ela já havia mergulhado no mundo dos
jogos virtuais – submergindo naquilo em que há de melhor e também de pior
neles. A estudante de Comunicação em Mídias Digitais começou a jogar online
quando tinha entre 13 e 14 anos. Hoje, com 23 anos, ela dedica uma parte de seu
tempo livre ao League of Legends, mas esse é apenas mais um dos muitos jogos em
que ela se aventurou.
Quando mais nova, Naiade não tinha internet
em casa, mas desde cedo já demonstrava seu interesse. Jogava pinball, paciência
e freecell, os jogos que já vinham instalados no computador. Até o momento em
que seu avô, sempre muito ligado em tecnologia, começou a comprar revistas que
vinham com CDs de jogos.
- Acho que foi aí que comecei a tomar gosto.
Quando eu ia de férias para casa dele, eu lembro que ele tinha muitos jogos
assim e era uma briga entre eu e meus primos para ver quem usava o computador
para jogar – relata. A internet chegou pouco tempo depois na cidade em que ela
morava, mas era muito precária. Por conta disso, ela passou a frequentar a
única lan house da cidade, o melhor lugar para acessar a web.
Foi nesse momento que a moça teve seu
primeiro contato com jogos online. “Lembro até hoje, foi um MMORPG, Ragnarok.
Eu via alguns meninos jogando lá na lan house, achei muito interessante”,
explica. Naiade acrescenta que o jogo chamou atenção porque ela sempre gostou
da cultura oriental. Ela costumava - e ainda costuma - ver desenhos japoneses e
como o design dos personagens do jogo eram bem parecidos com o desses desenhos,
foi identificação à primeira vista.
- Dentro do jogo eu fiz amigos e sempre
jogávamos juntos. O irônico é que foi com pessoas de outros lugares e não com
quem jogava na lan house – brinca a estudante. Assim, sempre que encontrava um
jogo novo, ela e seus amigos virtuais migravam para ele. Dessa forma, ela
acabou jogando muitos MMOS, como World of Warcraft, Perfect World, Gunbound,
Grand Fantasy, Holy Beasts e Microvolts. Eventualmente, ela acabou afastando-se
dos amigos online, mas encontrou colegas de sala, no ensino médio, que passaram
a jogar com ela.
Naiade explica que se sente relaxada quando
está jogando. “Parece que é uma coisa que eu sei fazer, que eu tenho controle e
que eu me sinto boa naquilo. Me sinto meio que poderosa lá, jogando. Quando eu
faço uma jogada massa, me sinto muito bem”. Sobre o que procura nos jogos, ela
resume na busca por diversão.
Por outro lado, ela admite que muitas vezes
sente mais raiva do que se diverte durante os jogos, mas que a sensação ao fim
das partidas é de missão cumprida ou, quando perde, de que pode melhorar.
“Sinto, às vezes, também que é uma fuga da rotina, do cotidiano e até do mundo
de vez em quando. Quando parece que não vai nada bem, eu entro lá e sei que lá
o que eu fizer tem mais chances de dar certo, e eu vou me sentir recompensada
no final e, quem sabe, mais motivada”, afirma a estudante.
Sobre machismo nos games, Naiade é enfática:
já sofreu várias vezes. Ela diz que a maioria das agressões acontece na forma
de xingamentos, mas existe pessoas que ficam no pé dela apenas por ser mulher.
“Meu nick [nome de usuário] é sempre unissex ou masculino. Eu, inclusive, evito
usar palavras no feminino para escrever, sempre uso tudo terminado em O e
sempre procuro ser o mais fria possível”, pontua sobre as formas que encontrou
para evitar essas violências. Ela diz que nem todos os meninos dos jogos online
são “babacas”, mas faz o possível para não dar de cara com os que são. Ela
admite que o caso mais marcante para ela foi aquele em que lhe disseram “vá se
matar”, apenas por ter cometido um deslize no jogo e por ser menina.
Naiade não nega que, eventualmente, acaba
perdendo o controle e entrando na briga. Porém, ela tem consciência de que
xingamentos não são solução e, muitas vezes, pioram a situação. Por conta
disso, tem ignorado essas atitudes. Explica que vai nas configurações de chat e
desativa o sistema de comunicação ou mesmo silencia pessoas agressivas. Para
ela, esse é o caminho mais tranquilo e eficiente.
Naiade deixa um recado: esse comportamento é “horrível
e ultrapassado”. Para ela, as pessoas têm que perceber que vivemos o século 21
e que garotas em jogos online não são uma minoria, muito pelo contrário,
costumam ser mais presentes que os homens. “Foi-se o tempo que isso era
exclusividade masculina, estamos presentes em peso e isso não quer dizer que
somos melhores que vocês homens, mas somos tão boas quanto”.
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