terça-feira, 17 de outubro de 2017

#As Minas nos Games: Naiade

Descrição para cegos: foto de Naiade Caparelli olhando par a câmera.

Por Lucas Campos

Nascida em Goiás, Naiade Caparelli mora em João Pessoa há quatro anos. Antes disso, ela já havia mergulhado no mundo dos jogos virtuais – submergindo naquilo em que há de melhor e também de pior neles. A estudante de Comunicação em Mídias Digitais começou a jogar online quando tinha entre 13 e 14 anos. Hoje, com 23 anos, ela dedica uma parte de seu tempo livre ao League of Legends, mas esse é apenas mais um dos muitos jogos em que ela se aventurou.

Quando mais nova, Naiade não tinha internet em casa, mas desde cedo já demonstrava seu interesse. Jogava pinball, paciência e freecell, os jogos que já vinham instalados no computador. Até o momento em que seu avô, sempre muito ligado em tecnologia, começou a comprar revistas que vinham com CDs de jogos.
- Acho que foi aí que comecei a tomar gosto. Quando eu ia de férias para casa dele, eu lembro que ele tinha muitos jogos assim e era uma briga entre eu e meus primos para ver quem usava o computador para jogar – relata. A internet chegou pouco tempo depois na cidade em que ela morava, mas era muito precária. Por conta disso, ela passou a frequentar a única lan house da cidade, o melhor lugar para acessar a web.
Foi nesse momento que a moça teve seu primeiro contato com jogos online. “Lembro até hoje, foi um MMORPG, Ragnarok. Eu via alguns meninos jogando lá na lan house, achei muito interessante”, explica. Naiade acrescenta que o jogo chamou atenção porque ela sempre gostou da cultura oriental. Ela costumava - e ainda costuma - ver desenhos japoneses e como o design dos personagens do jogo eram bem parecidos com o desses desenhos, foi identificação à primeira vista.
- Dentro do jogo eu fiz amigos e sempre jogávamos juntos. O irônico é que foi com pessoas de outros lugares e não com quem jogava na lan house – brinca a estudante. Assim, sempre que encontrava um jogo novo, ela e seus amigos virtuais migravam para ele. Dessa forma, ela acabou jogando muitos MMOS, como World of Warcraft, Perfect World, Gunbound, Grand Fantasy, Holy Beasts e Microvolts. Eventualmente, ela acabou afastando-se dos amigos online, mas encontrou colegas de sala, no ensino médio, que passaram a jogar com ela.
Naiade explica que se sente relaxada quando está jogando. “Parece que é uma coisa que eu sei fazer, que eu tenho controle e que eu me sinto boa naquilo. Me sinto meio que poderosa lá, jogando. Quando eu faço uma jogada massa, me sinto muito bem”. Sobre o que procura nos jogos, ela resume na busca por diversão.
Por outro lado, ela admite que muitas vezes sente mais raiva do que se diverte durante os jogos, mas que a sensação ao fim das partidas é de missão cumprida ou, quando perde, de que pode melhorar. “Sinto, às vezes, também que é uma fuga da rotina, do cotidiano e até do mundo de vez em quando. Quando parece que não vai nada bem, eu entro lá e sei que lá o que eu fizer tem mais chances de dar certo, e eu vou me sentir recompensada no final e, quem sabe, mais motivada”, afirma a estudante.
Sobre machismo nos games, Naiade é enfática: já sofreu várias vezes. Ela diz que a maioria das agressões acontece na forma de xingamentos, mas existe pessoas que ficam no pé dela apenas por ser mulher. “Meu nick [nome de usuário] é sempre unissex ou masculino. Eu, inclusive, evito usar palavras no feminino para escrever, sempre uso tudo terminado em O e sempre procuro ser o mais fria possível”, pontua sobre as formas que encontrou para evitar essas violências. Ela diz que nem todos os meninos dos jogos online são “babacas”, mas faz o possível para não dar de cara com os que são. Ela admite que o caso mais marcante para ela foi aquele em que lhe disseram “vá se matar”, apenas por ter cometido um deslize no jogo e por ser menina.
Naiade não nega que, eventualmente, acaba perdendo o controle e entrando na briga. Porém, ela tem consciência de que xingamentos não são solução e, muitas vezes, pioram a situação. Por conta disso, tem ignorado essas atitudes. Explica que vai nas configurações de chat e desativa o sistema de comunicação ou mesmo silencia pessoas agressivas. Para ela, esse é o caminho mais tranquilo e eficiente.

Naiade deixa um recado: esse comportamento é “horrível e ultrapassado”. Para ela, as pessoas têm que perceber que vivemos o século 21 e que garotas em jogos online não são uma minoria, muito pelo contrário, costumam ser mais presentes que os homens. “Foi-se o tempo que isso era exclusividade masculina, estamos presentes em peso e isso não quer dizer que somos melhores que vocês homens, mas somos tão boas quanto”.

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