Descrição
para cegos: foto de Marina Sousa olhando para a câmera.
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Por
Lucas Campos
De
acordo com a consultoria Game Brasil, que coleta dados e analisa o perfil de
comportamento, consumo e tendência dos gamers (pessoas que curtem jogos), 53.6%
dos jogadores brasileiros são do sexo feminino. Ainda que sejam maioria nesses
espaços virtuais, isso não impede que as garotas sofram violências, como
machismo, sexismo e assédio.
A belo-horizontina Marina Sousa conta que já se sentiu
agredida dentro da comunidade de games diversas vezes e de várias formas, por
ser mulher. Foi por conta disso que, há algum tempo, ela tomou a decisão de se
afastar dos jogos online, voltando a se interessar por eles só recentemente,
com o game Paladins. Ela afirma que prefere jogar em consoles, como Playstation
4, Nintendo Switch ou portáteis, como o Nintendo 3DS e Playstation Vita – e
nenhum online.
“A verdade é que a comunidade nerd/gamer é uma das
mais hostis com o sexo feminino, e esse foi um dos maiores motivos para eu ter
me afastado dos jogos online”, explica. Ela relata que, quando vai jogar
online, desabilita a função de comunicação por chat, porque embora isso
prejudique o entrosamento com os times, é o recurso que lhe permite fazer o que
gosta de uma forma “saudável” e tranquila.
Marina conta que jogar videogame, online ou não,
lhe traz paz. Para ela, ter um controle em mãos lhe dá a sensação de liberdade
e de poder viajar para outros mundos, ou mesmo ser uma outra pessoa. “Eu gosto
de me divertir sem ficar me estressando, sem perder a cabeça. Acho que o mais
importante é o jogo agir como algo positivo no meu dia, e não uma coisa que vai
me irritar ou me tirar do sério”, afirma a estudante.
A fria realidade dos games online, entretanto, lhe
causa indignação. Para ela, as mulheres são vistas de duas formas nesses
espaços: primeiramente, como objetos de idolatria, porque são mulheres jogando.
“Eu sei que isso parece bacana, mas é um saco você não conseguir fazer uma
amizade ou manter um diálogo sabendo que há sempre uma intençãozinha maldosa
por trás da outra pessoa”, desabafa. A segunda forma citada é aquela
obscurecida pelo sexismo, ou seja, para os homens, uma mulher que joga
videogame é automaticamente inferior e prejudica todos os demais que jogam com
ela. Marina afirma que, em alguns casos, as meninas precisam até “se esconder”
para não passar por essas situações desagradáveis.
A belo-horizontina, entretanto, tenta não
generalizar: “É claro que tem um outro grupo de jogadores que nos tratam como iguais,
sem objetificação, nem agressividade, mas sinceramente é um número bem menor”.
Ela cita o caso do jogo League of Legends, que foi
o estopim para que largasse temporariamente os jogos online. Marina classifica
a comunidade do game como tóxica e que perdeu as contas de quantas vezes o jogo
desandou porque descobriram que ela era uma mulher, de forma que o foco dos
seus companheiros de equipe passou a ser atacá-la com algumas frases machistas.
“Coisas do tipo ‘vai lavar uma louça’, ou me chamavam de puta, vadia, etc. Ser
mulher é não poder errar em uma estratégia porque logo você vai ser ou ouvir
‘claro, tinha que ser mulher’. Pra falar a verdade, ser mulher é ter que
aguentar esse tipo de piadinha e agressão antes mesmo de uma partida começar”,
lamenta.
Ela acrescenta que debater o assunto é difícil,
porque os homens lhe respondem que todo mundo xinga online. “Acontece que
nós somos xingadas apenas porque somos mulheres. Somos vistas como jogadoras
inferiores apenas porque somos mulheres”. Marina diz também que, por muito
tempo, brigou e retrucou às violências que sofria. Ela passou a usar os
palavrões como um mecanismo de defesa, mas aos poucos foi se cansando disso.
Por fim, chegou a um ponto em que percebeu que o silêncio era uma resposta mais
efetiva. “Fazer meu papel, me dedicar durante a partida e fazer o melhor que eu
posso”, explica. Ela admite que, infelizmente, perdeu o gosto por buscar amigos
nos jogos e, de certa forma, sente uma amargura para com a comunidade
nerd/gamer.
A garota também relata que fica triste por saber
que isso não acontece apenas com ela. Marina já viu vários casos de garotas que
se afastam de grupos nerds mistos e se isolam em grupo femininos, porque não
encontram respeito naqueles. Ela afirma que, quanto mais o tempo passa, mais
percebe que a culpa é do machismo impregnado na sociedade. “Boa parte das
pessoas da minha geração cresceu ouvindo que ‘videogame é coisa de menino’, e
muitos desses meninos acham que a presença das mulheres nos jogos online é uma
afronta. Só que não é. Videogames são pra qualquer pessoa se divertir, não
importa o sexo”.
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