Descrição para cegos: foto de Laerte Coutinho sorrindo
enquanto passeia pela Avenida Paulista durante Parada LGBT. Ao fundo, outras
pessoas que estão participando movimento.
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Por Lucas Campos
Em 2010, Laerte Coutinho
assumiu sua transexualidade para a Revista Bravo. Desde então, a figura por
trás das tirinhas que, por anos, permearam - e ainda permeiam - as páginas de
jornais e revistas de todo o país, tornou-se o alvo dos holofotes. Pensando em
conhecê-la melhor, Eliane Brum e Lygia Barbosa da Silva dirigiram o primeiro
documentário brasileiro disponibilizado na plataforma de streaming Netflix.
O longa, assim como a
personagem principal, começam travados - reflexo da recusa inicial de Laerte a
expor sua vida em algo que poderia ser visto por tanta gente. O tema, por
sinal, também lhe assusta. De forma sincera, ela não se sente apta a falar
sobre a causa, de tornar-se a voz de um movimento - porque, aliás, ela mesma
afirma que podem existir pessoas mais capazes de falar sobre a questão trans.
Este, como você deve
imaginar, é o ponto central do documentário.Laerte-se aborda a descoberta da transexulidade, o relacionamento
familiar, o próprio processo de redesignação sexual e até aquilo que perpassa
pelo âmbito profissional. Mas vai além. De forma muito sutil, a documentarista
também conhece a casa de Laerte, sua nudez, seus relacionamentos e até seu
guarda-roupa. Por incrível que pareça, nada disso nos passa a sensação de
invasão do espaço pessoal, porque é construído de forma muito leve.
Ao longo do filme,
descobrimos também como Laerte trouxe para o seu trabalho um reflexo do
conflito pessoal que vivia ao descobrir-se trans. Em Hugo, seu icônico
personagem, a cartunista projeta o desejo de vestir-se e, mais do que isso, ser
uma mulher. Além disso, como o documentário é muito recente (maio de 2017),
Laerte e Eliane conversam sobre a situação política do país e sobre a posição
da personagem em meio a todo esse caos - esquerdista assumida.
Laerte-se é um filme sobre a liberdade de ser, mas também sobre dúvidas. A mulher que conhecemos no
documentário é cheia de segurança, mas também de fragilidades. Ela fala sobre
as incertezas de seu corpo - como a necessidade de colocar seios e também
realizar a cirurgia para mudança de sexo - e também como um corporativismo nas
causas de minorias criam um sistema opressor que qualifica os indivíduos por
seguirem determinadas regras dentro do grupo. Como se
isso a abalasse: considera-se mulher e trata-se no feminino o tempo todo.
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