A triologia cinematográfica
brasileira, “De Pernas pro Ar”,
mostra o
cotidiano de uma empresária da indústria de produtos eróticos, mas
ali, ainda temos muitas adaptações quanto aos perregues que as
empreendedoras do ramo passam no dia a dia.
Ianelli Lopes, uma administradora de
empresas cearense,
de 23 anos, mostra que,
ser mulher, jovem e sem freios com tabus podem ser o combustível
necessário para investir numa área que muitos ainda sentem vergonha
em usufruir, como ela fala com a gente em entrevista para o Blog
Cidadania em Pauta: Questões de Gênero.
Descrição
para cegos: Ianeli sorrindo com sua beca preta no dia de sua
formatura.
Juliana
Lima: Como iniciou teu
desejo em trabalhar com produtos eróticos?
Ianelli
Lopes: Comecei porque minha
mãe estava com problemas de saúde e eu precisava estar presente
durante seu tratamento dela, em escritório não é possível fazer
seu próprio horário.
A possibilidade de vender os produtos
surgiu com um casal com o qual eu tinha uma relação, pois eles
vendiam de forma pequena, sem clientes fidelizados, e ali vi a
possibilidade de um negócio lucrativo. A margem de lucro era alta,
mas a falta de divulgação limitava muito o contato entre o negócio
e os clientes, então eu resolvi colocar em prática a minha formação
em administração. O negócio foi crescendo, a mulher do casal pediu
a separação de mim
e continuei sozinha
uma loja virtual com vendas pelo Instagram e a domicílio.
JL:
É um mercado que está sobrevivendo pela atual crise?
IL:
Tem crescido bastante, principalmente os produtos nacionais são de
excelente qualidade, porém ainda enfrentamos a dificuldade da
divulgação, porque as leis brasileiras limitam muito a propaganda
sobre produtos eróticos - tanto que todos são vendidos como:
cremes corporais,
óleos corporais,
geis corporais
e massageadores corporais, nada pode ser direcionado ao sexo, por
mais que a gente saiba seu real uso.
Sobre
a crise, ela tem impactado muito nas nossas vendas, porque produto
erótico é item de luxo e o poder de compra do trabalhador tem caído
muito, então os primeiros negócios que caem são os micros como o
meu.
JL:
Sabemos que o mercado erótico é feito para homens, a partir do
imaginário deles. Como as mulheres chegam até você?
IL:
Hoje, a minha clientela é 70% feminina, 25% gay e os outros 5% são
homens casados e/ou fetichistas.
Os
homens são mais tímidos, acredito que por eu ser mulher e agir com
naturalidade ao atender facilita
nas vendas, já as
mulheres têm mais facilidade de chegar e conversar comigo, mas a
visão de muitas, sobre minha profissão, se divide em quem: não
levar
nosso trabalho a sério.
Nesse
momento, Ianeli pediu uma pausa para beber água, com um semblante
mais sério, retomou a fala para citar os casos de assédio que já
passou durante as vendas:
IL:
Muitos homens me procuram não pra comprar produtos, mas sim porque
acham que é mais fácil me levar pra cama, usam a desculpa de
comprar meus produtos pra experimentar comigo, então preciso
exercitar um jogo de cintura pra saber quando é um cliente sério e
quando é um que posso evitá-los
sem me preocupar.
Sei
que não sou a única a passar por essas situações, conheço outras
mulheres do mesmo mercado relatam problemas parecidos, então o
assédio é bem constante nesse meio, mesmo assim continuamos nossas
vendas e não são esses casos que nos farão parar.
JL:
Essa experiência, mesmo com os percalços, rendeu dicas para quem
está iniciando no mercado erótico?
IL:
Sim, as dicas básicas são: investir em produtos diferenciados,
conhecer o que vocês estão vendendo, testar antes de oferecer para
conhecer os benefícios, como funcionam e para que servem - o mercado
produz muitos itens de higiene e saúde sexual - mas precisa tomar
cuidado com
entre o profissional e o pessoal, ninguém quer cliente lembrando de
vocês na hora h, né?
O
principal é ser sincero, isso é o verdadeiro fidelizador de
clientes, mesmo que outros vendam mais barato, as pessoas compram
pela confiança e segurança que o vendedor passa.
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