domingo, 20 de março de 2016

Pai, você também é mãe!

Descrição para cegos: desenho traz  homem com uma interrogação
localiza acima de sua cabeça e uma expressão de surpresa ao
abraçar uma menina.
Por Dani Fechine

Mês passado recebi na redação uma pauta sobre gravidez na adolescência. Um dos caminhos era conversar com jovens sobre o assunto, saber o que pensam, o que debatem e como se comportam diante disso. É esse um dos melhores momentos de ser jornalista: conversar, ouvir os outros. E é esse também o pior momento de reconhecer no outro a sociedade machista na qual ainda estamos inseridas.
Durante as entrevistas com os alunos de uma escola da capital, não precisou muito tempo para ouvir julgamentos das mães adolescentes. Avaliações, inclusive, arraigadas numa sociedade machista. Parece-me que os paradigmas criaram raízes. “ELAS não têm a consciência de que ELAS geraram aquilo, ELAS têm que ter a responsabilidade sobre aquilo”, disse um dos estudantes, enfatizando a palavra “elas” da mesma forma que acabo de destacar.
Enquanto eu ouvia essas palavras ofensivas, a tentativa de explicar que as crianças também tinham pais ia caminhando ao fracasso. Para não alongar a discussão entre repórter e entrevistados, só acrescentei: “Eles também, né?”. E recebi o silêncio em troca. Constantemente, ao me referir às mães adolescentes, sempre trazia para exemplo os namorados das garotas (futuros pais), em mais uma tentativa de enriquecer aquela entrevista que tinha tudo para mudar o enfoque da pauta.
Portanto, antes de saber qualquer coisa sobre gravidez, sobre atenção, contribuição e preservação, é indispensável colocar-se nos lugares corretos e na posição dos outros. Por séculos, mulheres lutaram para conquistar espaço no mercado de trabalho e na vida social. Até hoje tentam quebrar dogmas impregnados na sociedade. Também por séculos, e nesse caso por um tempo muito maior, concluiu-se que uma mulher não faz um bebê sozinha. Portanto, uma mulher não tem responsabilidade única sobre o filho.
Com tantas lutas feministas tomando ruas e internet, o que menos se espera é o dedo apontado. Tantas mãos já tocam os corpos das mulheres com atitudes abusivas e criminais. É mesmo necessário mais um dedo, o de acusação? Culpar uma gravidez também é abuso. Esse é o momento de dizer: eles têm que assumir a responsabilidade sobre aquilo. Eles: mãe e pai, homem e mulher, homem e homem, mulher e mulher. Direitos iguais, responsabilidades iguais.
Pai, você também é mãe.

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