terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Violência contra mulher e ironia ao que é correto

Descrição para cegos: imagem apresenta questão elaborada pelo Medgrupo. Contém uma mulher deitada numa cama com suas partes íntimas expostas e sua vagina exalando um odor em decorrência de corrimento vaginal. Em primeiro plano, um rapaz foge tapando o nariz.
Por Cisco Nobre

Uma grande instituição de educação protagonizou um exemplo de desumanidade ao levantar questões de gênero nas últimas semanas. O Medgrupo, gigante no ramo de ensino para concursos de profissionais da Medicina, chamou atenção ao ter suas apostilas divulgadas nas redes sociais. O conteúdo do material apresenta vários tipos de violência ao corpo feminino, questionando, além da estrutura física da mulher, o seu caráter. Indagada sobre o caso, a empresa alegou ser contra a agenda do “politicamente correto”.
Na imagem de uma das questões, é apresentada uma jovem de 18 anos nua, deitada numa cama. A garota tem as suas partes íntimas expostas, com um suposto odor exalando de sua vagina, algo que é justificado por problema ginecológico. O absurdo é que, no mesmo desenho, um rapaz, com cara de nojo, sai correndo do local, fugindo. No texto da questão, é dito que a moça sofre de um corrimento no canal vaginal.
O texto que acompanha a ilustração descreve a jovem como promíscua, aspecto desnecessário e até inadequado para a circunstância, pois leva a associar o problema de saúde à promiscuidade.
Tem-se aí mais um ato absurdo de violência contra a mulher. O conteúdo a transforma objeto e denigre sua imagem ao invés de abordar o correto tratamento de saúde. A misoginia praticada é mais uma atitude de agressão estrutural, dentro de estruturas do nosso cotidiano. Como por exemplo, uma instituição de ensino formando de forma distorcida a opinião de tantos médicos matriculados no curso.
Questionado por internautas, o Medgrupo afirmou ser “contra a agenda do politicamente correto” e disse que não modificaria nada do exposto. Decisões como esta mostram como ainda estamos distantes de uma sociedade mais respeitosa, menos violenta.
Além disso, a resposta apresenta outra questão, um enorme problema. A expressão “politicamente correto” tornou-se pejorativa, sinônimo de causas tolas. De tal modo que a expressão é desrespeitada ou subjugada, sofrendo preconceito de pessoas que dificilmente conhecem a real intenção de se usar denominações que não ofendam nem discriminem de forma negativa o diferente. Semelhante ao tratamento do termo Direitos Humanos.
O fato é que enquanto as pessoas não se dedicarem a compreender o que são essas agendas, a construção de expressões como o politicamente correto, por exemplo, o preconceito vai perdurar. Como resultado, a violência vai se refletir desde o discurso até a estrutura social e, de certa forma legitimando preconceitos e mesmo agressões físicas.

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