quarta-feira, 31 de maio de 2017

Pela independência: a mulher no comando da Fifa

Descrição para cegos: foto de Fatma Samoura ao lado de um painel com várias bolas de futebol, representativas das diversas Copas do Mundo. Ela tem a mão esquerda apoiada em uma bola e olha para a câmera.
Por Cisco Nobre

O primeiro jogo de futebol praticado por mulheres reconhecido pela Fifa aconteceu no final da Século XIX. A cidade de Londres, com pouco público, no ano de 1895, viu moças desafiarem a intolerância e praticarem o esporte que viria a ser o de maior sucesso da Idade Contemporânea. Passados 127 anos da partida inaugural, a entidade que administra o futebol mundial observa a modalidade feminina obter êxito e encher estádios das competições de disputadas por seleções. Porém, a realidade não é igual para todas as jogadoras e muitas ainda batalham contra o preconceito, além da busca  pela profissionalização.
Primeira mulher a ocupar cargo na Fifa, a senegalesa Fatma Samoura é secretária-geral e representante do futebol feminino na entidade. Ela constatou um aumento significativo nos estádios de competições de seleções entre as mulheres. A última Copa Africana de Nações, realizada em Camarões, contou com um público de no mínimo 13 mil pessoas prestigiando aos jogos. Um número que supera alguns jogos de futebol masculino no Brasil.
Samoura avalia o novo cenário com muita expectativa. Com o desejo de acabar com a dominação masculina, a secretária da Fifa fez um levantamento sobre essa opção do público de acompanhar a modalidade que não é acostumada a levar muitos adeptos aos jogos. O mesmo continente africano que colocou mais de dez mil pessoas nos estádios, anteriormente não se conseguia levar duas mil para prestigiar as jogadoras, segundo a própria dirigente.
Um dos pontos que Fatma mais critica é o fato de o futebol feminino depender dos recursos gerados pela Copa do Mundo masculina. A dirigente destaca que essa forma de atuar é degradante e que apenas o investimento na modalidade atrairia mais patrocinadores e daria autonomia, sem a dependência do masculino.
O fato é que a chegada de Samoura à entidade fortaleceu demais a modalidade. O investimento atraiu patrocínios, que renderam em maior veiculação das competições organizadas pela Fifa a elevar a participação dos torcedores nos estádios. Contudo, a realidade é um pouco mais sofrida e distante para jogadoras que ainda não atingiram o patamar de representar seu país na sua seleção.
        No Brasil, o futebol feminino ainda é considerado um esporte amador e enfrenta dificuldades para sobreviver diante do preconceito por questões de gênero. É um esporte que por muitos anos só podia ser praticado por homens, está enraizado numa cultura machista. No chamado “país do futebol”, as mulheres jogam por paixão, não recebem para se dedicar ao trabalho e, consequentemente, não conseguem atrair maior visibilidade.
        O país é só um exemplo do imenso trabalho que Fatma Samoura vai ter como representante do futebol feminino na Fifa. Profissionalizar a modalidade é uma forma de combater o preconceito, dar suporte as atletas e aperfeiçoar as competições resultaria em maior visibilidade. Contudo, o aumento do público nos estádios pelo mundo é um sinal de tempos menos preconceituosos.

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