segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Laerte-se: visitando a subjetividade trans

Descrição para cegos: foto de Laerte Coutinho sorrindo enquanto passeia pela Avenida Paulista durante Parada LGBT. Ao fundo, outras pessoas que estão participando movimento.
Por Lucas Campos
  
Em 2010, Laerte Coutinho assumiu sua transexualidade para a Revista Bravo. Desde então, a figura por trás das tirinhas que, por anos, permearam - e ainda permeiam - as páginas de jornais e revistas de todo o país, tornou-se o alvo dos holofotes. Pensando em conhecê-la melhor, Eliane Brum e Lygia Barbosa da Silva dirigiram o primeiro documentário brasileiro disponibilizado na plataforma de streaming Netflix.

O longa, assim como a personagem principal, começam travados - reflexo da recusa inicial de Laerte a expor sua vida em algo que poderia ser visto por tanta gente. O tema, por sinal, também lhe assusta. De forma sincera, ela não se sente apta a falar sobre a causa, de tornar-se a voz de um movimento - porque, aliás, ela mesma afirma que podem existir pessoas mais capazes de falar sobre a questão trans.
Este, como você deve imaginar, é o ponto central do documentário.Laerte-se aborda a descoberta da transexulidade, o relacionamento familiar, o próprio processo de redesignação sexual e até aquilo que perpassa pelo âmbito profissional. Mas vai além. De forma muito sutil, a documentarista também conhece a casa de Laerte, sua nudez, seus relacionamentos e até seu guarda-roupa. Por incrível que pareça, nada disso nos passa a sensação de invasão do espaço pessoal, porque é construído de forma muito leve.
Ao longo do filme, descobrimos também como Laerte trouxe para o seu trabalho um reflexo do conflito pessoal que vivia ao descobrir-se trans. Em Hugo, seu icônico personagem, a cartunista projeta o desejo de vestir-se e, mais do que isso, ser uma mulher. Além disso, como o documentário é muito recente (maio de 2017), Laerte e Eliane conversam sobre a situação política do país e sobre a posição da personagem em meio a todo esse caos - esquerdista assumida.
Laerte-se é um filme sobre a liberdade de ser, mas também sobre dúvidas. A mulher que conhecemos no documentário é cheia de segurança, mas também de fragilidades. Ela fala sobre as incertezas de seu corpo - como a necessidade de colocar seios e também realizar a cirurgia para mudança de sexo - e também como um corporativismo nas causas de minorias criam um sistema opressor que qualifica os indivíduos por seguirem determinadas regras dentro do grupo. Como se isso a abalasse: considera-se mulher e trata-se no feminino o tempo todo.

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