quinta-feira, 5 de outubro de 2017

#As Minas nos Games: Laís

Descrição para cegos: foto de Laís Figueiredo olhando para a câmera.

Por Lucas Campos

Ela nem mesmo lembra a idade com a qual começou a jogar. Estima, entretanto, que começou em 2008, há quase 10 anos. Naquela época, a menina tinha um computador “cabeção”, que fora comprado por seus pais, uma máquina não muito boa mesmo para os padrões daquele tempo. Lembra-se que costumava jogar games mais bobos e ingênuos, como Neopets ou Habbo Hotel, coisas que ela entende como não-jogos.

“O primeiro jogo realmente competitivo que joguei foi o Tibia, em 2009, um negócio que realmente fez parte da minha vida por muito tempo, e que até hoje faz”, relata a estudante paulista Laís Figueiredo. Ela diz que a relação estabelecida, desde a infância, com os jogos era “bipolar”, porque beirava o ódio quando o amor não imperava.
A jovem confessa que, ainda que costuma se divertir jogando, se sente um tanto frustrada eventualmente. Ela raramente joga online para se distrair, porque sempre estabelece metas a serem cumpridas dentro dos games, como chegar até certo nível ou completar uma missão muito difícil. Por conta disso, passou um tempo sem jogar online, mas voltou ao ciberespaço com o League of Legends e com o Tibia, aquele jogo de sua infância.
A gamer esclarece, entretanto, que quando era mais nova e estava começando a jogar online, encontrava um número muito reduzido de mulheres e o ambiente tornava-se tipicamente “masculino”. O machismo, infelizmente, era uma característica predominante desse tipo de ambiente. “Os caras sempre acharam, em todos os jogos que já joguei, que por eu ser mulher eu tinha que ser obrigatoriamente pior que eles. Quando eu realmente era pior, era porque ‘eu sou mulher’. Quando eu era melhor, era motivo pra me chamar de ‘shemale’ (homens que jogam com personagem feminino)”, explica. Laís acrescenta que, para esses homens, “ser mulher” e “ser boa” eram coisas que não podiam andar lado a lado.
Ela esclarece que, hoje em dia, termos como ‘shemale’ entraram em desuso, porque as mulheres têm dominado esses espaços gradativamente, mas isso não significa que as agressões também acabaram. Laís relata que as agressões são voltadas unicamente pelo fato de ser uma mulher: “’Tinha que ser mulher’, ‘vai lavar louça’ e derivados são coisas que eu já fui obrigada a ler por conta dos meus amigos terem citado meu nome em alguma partida on-line, já que meus nicknames costumam ser "neutros" (não tem nada que fale ‘essa pessoa deve ser uma mulher’)”. Esse tipo de situação, infelizmente, acontece com ela, mas também com suas amigas. É algo que faz Laís se sentir verdadeiramente mal.
Quando é atacada nos jogos, Laís costuma usar o recurso de silenciamento que existe em grande parte dos jogos online, impedindo-a de ver o que falam negativamente sobre ela. “Não acho que valha a pena me estressar com esse tipo de coisa quando estou jogando”, afirma a paulista.
Laís acredita que este poderia ser visto como um comportamento infantil, mas que muitos homens costumam adotá-lo, então vai além: é machismo vindo de homens que não conseguem aceitar que o mundo dos jogos está cada vez mais frequentado por mulheres. “O ego masculino é grande demais e não aceita que mulheres, historicamente vistas como inferiores na nossa sociedade, possam ser melhores que eles”, lamenta. Ela conclui dizendo que não sente raiva de ninguém que a xingou, mas sim pena. Seu desejo é que essas pessoas se coloquem no lugar das mulheres que agridem e reflitam sobre as atitudes nocivas que estão praticando.

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