sexta-feira, 10 de abril de 2015

A virgem na jaula: um apelo à razão

Descrição para cegos: Mão esquerda com unhas
pintadas de vermelho segurando o livro A virgem na jaula.

Por Tereza Figueiredo


Ao ser convidada por uma professora para ler “A virgem na jaula: um apelo à razão”, de Ayaan Hirsi Ali, imaginei que me depararia com algum enredo relacionado ao tabu da sexualidade feminina.
A história, contada em pouco mais de 200 páginas, retrata a vida da própria autora. No entanto, é bem mais densa que isso: através de um verdadeiro desabafo, o leitor é exposto ao mundo islâmico e todas as suas fragilidades, especialmente no que concerne o tratamento dispensado à mulher.
Ayaan Hirsi Ali faz um apelo ao mundo ocidental para este resgate às mulheres oprimidas pelo islã, sob o argumento de que nenhum aspecto cultural deve servir de mecanismo para a degradação e sofrimento humanos. Os relatos de sua infância, da mutilação genital a que foi submetida, e de sua fuga para a Holanda, onde buscou refúgio e reconstruiu sua vida e carreira, são intercalados com as histórias de outras mulheres que cruzaram sua trajetória rumo ao ocidente.

A obra é impactante e desperta não só a inquietude, mas principalmente o senso crítico para analisar também o nosso contexto social: quantas mulheres ainda, mesmo na cultura ocidental, são submissas a alguma figura masculina? Quantas mulheres abdicam de suas carreiras profissionais e de uma educação superior para dedicar-se aos ofícios do lar? E quantas outras conseguem chegar ao mercado de trabalho, mas se submetem a receber um salário menor do que aquele que seria pago a alguém do sexo masculino para desempenhar exatamente a mesma função? E aquelas que são mostradas como bem-sucedidas, mas na maioria das vezes tiveram que pautar suas escolhas pessoais na carreira profissional para que só assim pudessem ascender em seus cargos?
É importante pensar na luta contra a opressão das mulheres muçulmanas, não com um olhar de pena ou tolerância, mas com um olhar humanizador. Entretanto, mais urgente ainda é olhar para as nossas mulheres e saber enxergar a opressão silenciosa que as cerca, aprendendo a diferenciar a real igualdade da discriminação velada. 

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