sexta-feira, 15 de maio de 2015

Os bacha posh e a transexualidade no Afeganistão

Descrição para cegos: Capa do livro As
meninas proibidas de Cabul. Que mostra
duas crianças, um menino e uma menina
num terreno de areia e barro. Ao lado delas
um muro alto também feito de areia e barro.
Logo abaixo delas, um desenho da silhueta
da cidade de Cabul.
Por Tereza Figueiredo

Não é novidade a opressão sofrida pela mulher na cultura islâmica. No Afeganistão, país onde o islamismo aplica seus ensinamentos tanto na esfera privada quanto na esfera pública, algumas famílias vestem suas meninas durante a infância com trajes de meninos para que estas possam desenvolver atividades exclusivas do sexo masculino, a exemplo de frequentar a escola com regularidade e transitar desacompanhadas livremente.
Assim, meninas desde os primeiros anos de vida são tratadas, vestidas e educadas como homens e assumem também este papel nos espaços públicos, de modo que nem mesmo seus grupos de amigos suspeitam do seu verdadeiro sexo biológico. Caso este seja descoberto, age-se naturalmente e a menina continua a ser tratada como um garoto.
Fenômeno parecido com o que acontece em uma pequena parte da Albânia, com a tradição das virgens juramentadas, os bacha posh, indivíduos considerados como de um terceiro gênero, têm um destino mais triste: enquanto que a virgem juramentada pode permanecer no papel masculino durante toda a vida se assim desejar, no Afeganistão os bacha posh, ao atingir a puberdade, são forçados a reassumir a identidade feminina.


Quando obrigados a se portarem como mulheres, os bacha posh entram em conflito interno e geralmente sofrem agressões de seus maridos ou dos homens de suas famílias, pois não conseguem ser subservientes e desempenhar as atividades esperadas de uma mulher, a exemplo de cozinhar e cuidar dos filhos. Acostumados com a autonomia concedida ao sexo masculino, os bacha posh dificilmente se adaptam à opressão sofrida pela mulher e, muitas vezes, permanecem travestidos, em segredo, pelo resto da vida.
A jornalista Jenny Nordberg foi uma das pioneiras a trazer a tradição dos bacha posh a público, primeiro em uma matéria para o New York Times e posteriormente no livro "As meninas proibidas de Cabul" - traduzido para o português este ano - cujo enredo gira em torno da vida de quatro bacha posh que passam pelos mais diversos dilemas: desde serem escolhidos para assumir o papel masculino até recusarem-se a tornar-se mulheres novamente perante a sociedade após a puberdade.

Para mais detalhes sobre o livro e sobre este fenômeno da cultura afegã, clique aqui 

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