segunda-feira, 6 de maio de 2019

PRAZER, EROTISMO EMPREENDEDOR



A triologia cinematográfica brasileira, “De Pernas pro Ar”, mostra o cotidiano de uma empresária da indústria de produtos eróticos, mas ali, ainda temos muitas adaptações quanto aos perregues que as empreendedoras do ramo passam no dia a dia.

Ianelli Lopes, uma administradora de empresas cearense, de 23 anos, mostra que, ser mulher, jovem e sem freios com tabus podem ser o combustível necessário para investir numa área que muitos ainda sentem vergonha em usufruir, como ela fala com a gente em entrevista para o Blog Cidadania em Pauta: Questões de Gênero.




Descrição para cegos: Ianeli sorrindo com sua beca preta no dia de sua formatura.



Juliana Lima: Como iniciou teu desejo em trabalhar com produtos eróticos?

Ianelli Lopes: Comecei porque minha mãe estava com problemas de saúde e eu precisava estar presente durante seu tratamento dela, em escritório não é possível fazer seu próprio horário.
A possibilidade de vender os produtos surgiu com um casal com o qual eu tinha uma relação, pois eles vendiam de forma pequena, sem clientes fidelizados, e ali vi a possibilidade de um negócio lucrativo. A margem de lucro era alta, mas a falta de divulgação limitava muito o contato entre o negócio e os clientes, então eu resolvi colocar em prática a minha formação em administração. O negócio foi crescendo, a mulher do casal pediu a separação de mim e continuei sozinha uma loja virtual com vendas pelo Instagram e a domicílio.

JL: É um mercado que está sobrevivendo pela atual crise?

IL: Tem crescido bastante, principalmente os produtos nacionais são de excelente qualidade, porém ainda enfrentamos a dificuldade da divulgação, porque as leis brasileiras limitam muito a propaganda sobre produtos eróticos - tanto que todos são vendidos como: cremes corporais, óleos corporais, geis corporais e massageadores corporais, nada pode ser direcionado ao sexo, por mais que a gente saiba seu real uso.
Sobre a crise, ela tem impactado muito nas nossas vendas, porque produto erótico é item de luxo e o poder de compra do trabalhador tem caído muito, então os primeiros negócios que caem são os micros como o meu.

JL: Sabemos que o mercado erótico é feito para homens, a partir do imaginário deles. Como as mulheres chegam até você?

IL: Hoje, a minha clientela é 70% feminina, 25% gay e os outros 5% são homens casados e/ou fetichistas.
Os homens são mais tímidos, acredito que por eu ser mulher e agir com naturalidade ao atender facilita nas vendas, já as mulheres têm mais facilidade de chegar e conversar comigo, mas a visão de muitas, sobre minha profissão, se divide em quem: não levar nosso trabalho a sério.

Nesse momento, Ianeli pediu uma pausa para beber água, com um semblante mais sério, retomou a fala para citar os casos de assédio que já passou durante as vendas:

IL: Muitos homens me procuram não pra comprar produtos, mas sim porque acham que é mais fácil me levar pra cama, usam a desculpa de comprar meus produtos pra experimentar comigo, então preciso exercitar um jogo de cintura pra saber quando é um cliente sério e quando é um que posso evitá-los sem me preocupar.
Sei que não sou a única a passar por essas situações, conheço outras mulheres do mesmo mercado relatam problemas parecidos, então o assédio é bem constante nesse meio, mesmo assim continuamos nossas vendas e não são esses casos que nos farão parar.


JL: Essa experiência, mesmo com os percalços, rendeu dicas para quem está iniciando no mercado erótico?

IL: Sim, as dicas básicas são: investir em produtos diferenciados, conhecer o que vocês estão vendendo, testar antes de oferecer para conhecer os benefícios, como funcionam e para que servem - o mercado produz muitos itens de higiene e saúde sexual - mas precisa tomar cuidado com entre o profissional e o pessoal, ninguém quer cliente lembrando de vocês na hora h, né?
O principal é ser sincero, isso é o verdadeiro fidelizador de clientes, mesmo que outros vendam mais barato, as pessoas compram pela confiança e segurança que o vendedor passa.

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